E Perseveravam

Sylvio Fratelli Filho -

Quando o Senhor Jesus falava sobre como seria no fim dos tempos, em Mateus 24.13 nos aconselhou: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”. Pensando nessa palavra “perseverar” o Espírito Santo me levou a olhar para Apocalipse 2.4-5 “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” Quando pensamos em voltar à prática das primeiras obras nos vêem à mente voltarmos ao inicio de nossa conversão, mas na verdade é voltarmos para as primeiras obras que o Espírito Santo levou a igreja primitiva a praticar. Em Atos 2.42-47 vemos as primeiras obras praticadas pela igreja após a descida do Espírito Santo, nas quais “TODOS PERSEVERAVAM”:

1. Na doutrina dos Apóstolos; nos ensinamentos que dera Jesus. Houve aceitação da parte de todos aos ensinamentos, e diante disso permitiram que o Senhor os transformasse e cumprisse Seus planos em suas vidas. Pedro é exemplo bem claro dessa realidade; quando andava com Jesus não podia entender muito das verdades ensinadas, mas quando o Espírito veio sobre ele houve mudança radical. Aquele homem medroso, orgulhoso e arrogante, passou a ser humilde, amoroso e destemido, a ponto de ser preso por causa de sua fé em Jesus (At 4). Quando cremos em Jesus e perseveramos em Seus ensinos passamos a fazer parte da família instituída por Deus (igreja) e grande mudança ocorre em nosso modo de viver. Há mudança de caráter, de objetivos e raciocínio. Perseverar na doutrina dos apóstolos é ter coragem até mesmo de morrer pela justiça, pela fé e amor a Jesus, é permitir que a Palavra de Deus mude nossa mente e estrutura de vida; “... apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus... transformai-vos pela renovação da vossa mente...” (Rm 12.1,2)

2. Na comunhão; ter algo em comum, compartilhar. A comunhão inicia-se quando há respeito, amor, dedicação, confiança, proteção e carinho de uns para com os outros. No período da igreja primitiva perseveravam nesta comunhão, havia desejo de estarem juntos, de elevarem gratidão e louvores a Deus. Não havia intrigas e nem preferência. Cada um procurava o interesse de Deus para o próximo. Perseveravam juntos nas lutar e dificuldades, se posicionavam e encontravam nas adversidades expectativas de vitórias. A Bíblia diz: “O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros...” (1 Co 6.7). A comunhão produz o amor Ágape, o qual não possui interesse próprio, não depende do que a pessoa é ou faz (Fp 2.1-4). Quando amamos desejamos estar juntos, em comunhão no amor, esquecendo-nos do que fica para trás e caminhamos juntos, rumo ao propósito de Deus. Igreja é família e nasceu em Deus e não no coração do homem, por isso não adianta estabelecermos um padrão de igreja e vivermos dentro de tal padrão.

3. No partir do pão; pão é símbolo do Corpo de Cristo. Hoje simboliza a igreja, porque ela é o corpo de Cristo sobre a terra. Se nós somos o pão, devemos partir de nós mesmos, isto é, compartilhar do que temos experimentado em nosso interior da vida de Cristo, e dar-nos de nós mesmos em favor de nossos irmãos:

• Em oração – orar com o desejo que o próximo seja abençoado.

• Exortar – mostra com espírito de mansidão, o erro e apresentar um caminho melhor, com o objetivo de edificar e revestido de amor (Gl 6.1).

• Santificar (ser separado para Deus) – assim como Cristo santifica a igreja, o marido santifica a esposa, o mesmo desejo e esforço deve existir na igreja, de santificar uns aos outros, afim de que todos sejam aperfeiçoados, Para que isso seja possível é indispensável gastar tempo uns com os outros. Para muitos, comunhão é sair junto para uma pizza, um bate papo ou um passeio, mas a Palavra de Deus exorta que comunhão é salmodiar, gastar tempo para edificar compartilhando de experiências que Deus tem derramado sobre a igreja (Ef 5; Cl 3.16-17). Não podemos confundir comunhão com amizade, pois a excessiva amizade abre portas para uma liberdade desregrada, mas a comunhão gera em todos, amor sincero e desinteresse próprio.

4. Na oração – oração que busca os interesses do Reino de Deus (Atos 4.23-31). Oração de intercessão (Atos 12.5) Por que a igreja perseverava na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e na oração? Porque havia temor. E o que é temor? É uma consciência de que Deus está presente e o desejo de honrá-LO e agradá-LO está acima de tudo e todos. É o reconhecimento da dignidade de Deus. Jesus disse: “Aqueles que me amam guardam os meus mandamentos”. Se tenho temor, vou perseverar na Palavra, orando e cuidando do relacionamento com meus irmãos. Vou contribuir, fazer a minha parte para que o corpo seja edificado e fortalecido através da minha oração.

5. Estavam juntos e tinham tudo em comum - Muitos tem medo de fazer parte da igreja, porque pensam que precisam desfazer-se dos bens que possuem, mas o que realmente acontecia na igreja primitiva era o “amor” que corria como um rio nos corações e consideravam-se mutuamente mais importante que as coisas materiais. Utilizavam tudo que possuíam para servir e beneficiar uns aos outros, por isso tinham tudo em comum. Todos tinham uma vida de prudência, respeito, honra e confiança para com o próximo. Não faziam o que lhes vinha à mente, mas a igreja era movida e dirigida pelo Espírito Santo em suas decisões e muitos por amarem mais ao Senhor e ao próximo do que as coisas materiais, num ato de fé (obediência à uma palavra especifica de Deus), vendiam o que tinham para suprir as necessidades de seus irmãos. Esta preocupação não partia apenas de um ou dois, mas de todos para com todos, o que também impedia o abuso por parte de alguns.

Vemos no capitulo 5 de Atos uma atitude sem a direção do Espírito Santo, através de Ananias e Safira. Este exemplo nos mostra que, quando alguém age sem a direção divina é influenciado por Satanás. Eles foram enganados porque abandonaram o perseverar. Aqueles irmãos tinham problemas como nós temos, mas buscavam juntos as soluções para cada um deles e diariamente buscavam ao Senhor (vida de oração – comunhão com Deus), por isso havia comunhão entre eles e amor, por isso compartilhavam o que Deus lhes concedia. Com isso, caiam na graça de todo povo e pessoas tocadas pelo Espírito Santo eram acrescentadas à igreja. Isso ocorria porque viviam nos padrões do Senhor. Há somente um corpo e um Espírito. Somos irmãos porque Ele é um só Senhor e Deus de toda igreja, não há irmãos que gostamos e os que não gostamos. Se temos dificuldades para nos relacionamos é porque nossa motivação não é glorificar a Deus. Jesus nos reconciliou com o Pai e nos deu a tarefa de reconciliarmos as pessoas com Ele (2 Co 5.18.-20). Não podemos viver sem aquelas pessoas que nos desagradam, elas são necessárias para o nosso aperfeiçoamento a fim de que glorifiquemos a Deus através do perdão e amor. Quando compreendemos estas coisas e que Deus não tem filhos prediletos, teremos como resultado o Seu poder atuando em nós como influência para edificar.

Igreja é família, composta de pessoas totalmente diferentes uma das outras, mas dispostas a fazer a vontade de Deus acima de sua própria vontade, e que não sejam movidas pelo ódio ou medo, mas sim pelo amor. “ESFORÇANDO-NOS DILIGENTEMENTE POR PRESERVAR A UNIDADE DO ESPÍRITO PELO VÍNCULO DA PAZ” (Ef. 4.3).